quinta-feira, 23 de maio de 2019

Penso, logo existo


"Cogito ergo sum", já disse Descartes.

"Penso, logo existo", ou "Eu penso, logo Eu existo", eis a questão que nem Shakespeare formulou.

Como sabemos, o "método cartesiano" foi pensado para se contrapor ao pensamento religioso da época medieval em que "eu não existo sem Deus".

Obviamente, Descartes não disse a frase completa : "Eu penso sem Deus, logo existo", porque pensava antes de falar.

Se dissesse deixaria de existir mesmo pensando...

Descartes, que não era bobo, fez uma espécie de acordo tácito com os igrejeiros: dividiu o mundo, fez um "Tratado de Tordesilhas" entre a matéria, que batizou de "res extensa" e o espírito, "res cogitans".

Descartes prezava a sua "res extensa"... mas cobiçava a "res cogitans".

Fez como os portugueses com o "Tratado de Tordesilhas": foi avançando território adentro da "res cogitam".

Resumo da ópera cartesiana: quando a igreja percebeu já era tarde, tinha perdido "as missões"...

O que Descartes não deduziu (nem podia) com seu método foram as consequências trágicas do "cogito, ergo sum": o solipsismo moderno que culminou na cínica "pós-verdade".

Ao que um índio velho perguntaria a Descartes: "eu penso a partir do que e de quem, cara-pálida"?!!


Porto Alegre, 23 de maio de 2019.

Imagem: Pinterest

Edu Cezimbra




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