" Um juiz é obrigado a me demonstrar a minha culpabilidade, mas que eu deva lhe demonstrar a minha inocência. se isso me é impossível, eis o que é contrário ao senso comum. Há nações que compreenderam isso há muito tempo e por isso se tornaram grandes. A excelência de uma nação é proporcional à excelência de sua justiça."
Jakob Wassermann, na sua reputada obra-prima "O Processo Maurizius" condena a justiça alemã da época nessa fala atribuída ao inocente Leonardo Maurizius, injustamente sentenciado à prisão perpétua pelo assassinato de sua esposa.
Leonardo emite esse veemente libelo diante do seu algoz, o promotor barão Wolf de Andergast, que obteve a sua injusta condenação, inicialmente à pena de morte, depois comutada em prisão perpétua.
É o pai de Leonardo, o agricultor Pedro Paulo Maurizius, que reflete sobre a tese da acusação com o jovem Etzel Andergast: "Quando alguém se agarra a uma teoria nada o fará abandoná-la. A realidade? Pouco importa".
E é o adolescente Etzel imbuído de um forte senso de justiça quem desencadeia uma crise de consciência em seu aristocrático e implacável pai.
Para além da discussão da justiça, o que me chamou a atenção foi a pena afiada do autor que como um bisturi cirúrgico disseca a alma humana com rara habilidade.
As almas angustiadas e sofridas que aparecem no romance são o reflexo de uma época em que se gesta o nazismo alemão.
Lamentavelmente, como constatamos no Brasil e no mundo atuais, diante de tantas injustiças e atrocidades, as lições da história não são aprendidas, mas sofridas.
Como disse o detento Mairizius ao procurador-geral von Andergast sobre sua experiência de 18 anos na prisão:
"Todos os males, todos os sofrimentos da terra provêm da impossibilidade de transmitir nossas experiências aos outros. No máximo podemos comunicá-las."
Porto Alegre, 14 de março de 2017.
Edu Cezimbra
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