Uma família normal estadunidense: tudo a esconder...
O pai alcoólatra, a mãe adúltera, o filho inválido e o fantasma de um bebê ilegítimo, todos cabem no sofá do cenário doméstico.
Um cobertor é disputado entre pai e filho, curto demais para encobrir tantas vergonhas.
Em torno disso gira a peça de teatro "Buried Child", de Sam Shepard, uma contundente parábola da "sagrada família" nos EUA.
A família que esconde zelosamente suas mazelas, simbolizada pela "criança enterrada", perdoada pela igreja.
Na peça, não há o retorno do filho pródigo (este morreu), mas do neto, na companhia de uma jovem desconhecida.
Ironicamente, não é o neto, mas a jovem estranha que abala a aparente ordem familiar.
Essa jovem manifesta o desejo de conhecer mais a família de seu amigo. A partir daí desencadeiam-se uma série de confissões do pai da família, culminando na "criança enterrada".
A volta do neto embriagado eleva ainda mais a dramaticidade da peça.
Apesar de toda crítica a sua família, o neto é declarado herdeiro da casa e dos bens materiais do avô, e mais, aceita essa herança.
Em outras palavras, aceita com satisfação dar continuidade a essa tragédia familiar, pois é o que lhe restou na vida.
A criança foi desenterrada... baixa o pano.
Porto Alegre, 29 de junho de 2019.
Imagem: Google
Edu Cezimbra
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