Foto: TV Escola |
Por Eduardo Sejanes Cezimbra
O Brasil sempre foi visto com desconfiança pelas jovens repúblicas sul-americanas que lhe faziam fronteira.Por ser um Império regido por uma dinastia europeia, escravocrata, e principalmente pelo seu expansionismo territorial junto com a Argentina.
Uma data que poucos conhecem e que provavelmente prefere ser esquecida pelos uruguaios e paraguaios: 4 de agosto de 1864, ultimato do governo imperial brasileiro ao governo uruguaio para que abra mão de sua soberania política.
De tão ofendidos os uruguaios se recusam a arquivar o ultimato. Enviam cópia para Francisco Solano López, presidente do Paraguay, com o qual haviam assinado Tratado de Defesa em troca da livre navegação para os produtos paraguaios no Rio da Prata.
Resposta do governo paraguaio: considera qualquer invasão do Uruguay como declaração de guerra do Brasil ao Paraguay..
O governo paraguaio avisou ao Império do Brasil que a guerra seria inevitável caso essa invasão ocorresse.
A armada brasileira sobe o Rio da Prata e invade o Uruguay derrubando o seu governo constitucional e colocando no poder um caudilho favorável aos interesses do Império do Brasil e da Confederação Argentina.
O presidente Solano Lopez declara guerra ao Brasil na defesa dos uruguaios e de seu próprio país ameaçado pelo bloqueio do Rio da Prata.
Começava a maior guerra da América do Sul, a chamada Guerra do Paraguay, também conhecida por Guerra da Tríplice Aliança e que, hoje se reconhece, foi uma guerra orquestrada para exterminar com os paraguaios e seu modelo de governo revolucionário para a época.
Depois de uma resistência heroica do povo paraguaio aos invasores de sua pátria restavam mortos 75,75% dos paraguaios restando mulheres, velhos e crianças.
O genocídio está feito, escreveu Julio José Chiavenatto no livro Genocídio Americano: A Guerra do Paraguay.
Do lado da Tríplice Aliança a maioria das baixas eram de negros escravizados por brasileiros e argentinos, o que resultou no extermínio dos negros argentinos.
Artigas, Solano López, Mujica, Lugo, Chavez, Evo Morales e uma história que os une.
Mujica recebe pelas mãos de Lugo o Grande Colar do Marechal Francisco Solano López, Ordem Nacional de Mérito do Paraguay Foto: Governo do Uruguay |
O que os livros de história deixavam de lado nas causas não-declaradas desta guerra são a forte justiça social e soberania popular tanto do Uruguay de Artigas quanto do Paraguay de Solano López.
O que convenhamos ainda hoje é omitido pela mídia comercial brasileira sobre os governos com apoio popular na América do Sul, entre eles os governos da Venezuela e da Bolívia, sem falar de Cuba.
As histórias da formação do Uruguay e do Paraguay, como agora a Bolívia, Cuba e Venezuela tem muito a nos mostrar do quanto estes dois países buscaram oferecer às suas populações humildes, especialmente aos povos indígenas que ali habitavam, condições dignas de vida.
Ambos, redistribuíram terras a estas nações dando-lhes autonomia e direitos sociais, bem como uma educação pública de qualidade e a defesa intransigente dos interesses populares contra suas oligarquias sempre à serviço de potências estrangeiras.
Eduardo Galeano, em seu livro Espelhos conta que a ditadura militar uruguaia construiu um mausoléu em Montevidéu para o herói nacional José Artigas e buscou frases deste para decorar o monumento fúnebre.
Hoje quem visita o mausoléu constata que há apenas as datas das batalhas que Artigas travou pela independência do Uruguay.
É que todas as citações de Artigas encontradas são um apelo ao respeito aos gaúchos humildes, à garantia dos direitos indígenas e à rebeldia diante do opressor.
Publicado originalmente em Ecologia dos Saberes
Porto Alegre, 6 de junho de 2019.
Imagens: Google
Edu Cezimbra
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