segunda-feira, 1 de julho de 2019

Edípico Coro


Possa eu conservar a mais santa pureza quer em minhas palavras quer em minhas ações! Possa eu obedecer na vida, às leis sublimes, instituídas pela Providência Divina, da qual é o Olimpo o supremo pai!

Quem assim diz é o Coro, na tragédia grega "Édipo Rei", de Sófocles.

Os Deuses (e as Deusas) eram ouvidos e obedecidos através de oráculos espalhados nos templos dedicados a Apolo, Ares, Ártemis, Atena entre outros.

Édipo matou o Pai, mas o Supremo Pai, o Olimpo, ou seja, Zeus e todos os Deuses e Deusas.


Não é para qualquer um, tem que ser o Rei de Tebas, o autor desta façanha heroica.

Matou o Pai Celeste, e mais, fodeu a Mãe Terrestre, com o perdão da metáfora horrenda, porém atualíssima.

Édipo, o homem do pé quebrado, manco, fura os olhos, não quer ver nem ouvir os desígnios dos Deuses e das Deusas.

Decifra o enigma proposto pela Esfinge e salva Tebas com olhos humanos, valendo-se da Razão.

Tirésias, o adivinho, também é cego, mas tudo vê, com “olhos divinatórios”, o que causa a ira do rei Édipo.

Como eu disse, Édipo, embora humano, é o Rei de Tebas, orgulhosa cidade-estado grega, onde Sófocles, com uma antecipação oracular vislumbra o Crepúsculo dos Deuses.

Desconfio que Nietzsche também leu Sófocles, alem de Freud

Ora, alguém que mata todos os Deuses e Deusas não terá pudor de matar o pai e comer a mãe, segundo o Coro edípico.

Torna-se um tirano, merecedor de uma morte violenta, e aqui, Édipo faz coro aos cidadãos tebanos. 

Arrisco, portanto, que Édipo, além de mito fundador da psicanálise, é também da modernidade…

Como vemos, hoje, uma modernidade manca, cega e surda aos desígnios da Mãe Terra, uma espécie de Jocasta profanada por tiranos metidos a "salvadores da pátria".

A tragédia grega continua, porém globalizada...

Fica a pergunta acusatória do coro edípico:

"Se tão nefandos crimes merecem honrarias, de que vale entoar cânticos em louvor dos deuses?"


Porto Alegre, 1º de julho de 2019.

Imagem: Google

Edu Cezimbra

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