terça-feira, 16 de abril de 2019

Nacionalidade literária


Se, como escreve Marguerite Yourcenar, nas suas "Memórias de Adriano": "o verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos: minhas primeiras pátrias foram os livros", então podemos concluir que há muitos apátridas espalhados pelo Brasil, especialmente em Brasília, não obstante suas patriotadas.

Não quero cansar o meu caro e raro leitor com a longa lista de medidas anti-patrióticas desse desgoverno. Pretendo não cansá-lo com umas poucas recordações de infância...

Quanto a mim, se aceitarmos a licença poética de Madame Yourcenar, minha primeira pátria literária foi um reino chamado "Reino das Águas Claras", governado pelo "Príncipe Escamado", personagem fabuloso de Monteiro Lobato.

Não posso desconsiderar os gibis, as "revistinhas" como nós chamávamos, lugar em que, digamos, obtive minha certidão de nascimento.

À diferença de Adriano (gigantesca) não foi com Horácio, nem Virgílio, mas com Monteiro Lobato que obtive minha cidadania, ou melhor, meu visto de permanência para migrar para a pátria de Erico Verissimo, Moacyr Scliar, Josué Guimaraens, Cyro Martins e tantos outros conterrâneos que me incentivaram a viajar por "mares nunca dantes navegados"... 


Porto Alegre, 16 de abril de 2019.

Imagem: Pinterest

Edu Cezimbra

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