"Para se cair num estado de depressão hoje em dia, é suficiente pensar na desintegração maciça da terra, do ar, da água e na podridão moral, na cobiça, na corrupção e em toda essa lista de baixezas humanas que até agora nós não conseguíamos perceber."
Leon Uris, em seu romance "QB VII", escrito na década de 60, já nos contava da "desintegração maciça da terra" como motivo para alguém cair em depressão.
Criticava acidamente 'toda essa enorme lista de baixezas humanas" para, em seguida, dar o seu veredicto: o homem tem de se declarar falido.
Considerava as grandes guerras como "coisas do passado" e, por isso, diante da forte possibilidade de aniquilação total o homem com "o defeito básico da raça humana" substituiu as guerras pelo "impulso para a auto-destruição."
Diante dessa "impossibilidade da guerra ele substituiu-a por outros perigos mortais. Poderá se destruir contaminando o ar que respira, incendiando, devastando e violentando, destruindo todas as instituições, todas as regras de sanidade, exterminando as criações animais, as sementes da terra e do mar, e envenenando-se pelas drogas e entorpecentes."
Um outro autor, Sigmund Freud, já nos falava de "Tanatos", o instinto de morte do homem em oposição ao Eros, instinto de vida.
Freud, por saber de sua grande influência, na época, não manteve "Tanatos" como base da teoria psicanalítica preferindo dar relevância à Eros.
Leon Uris, talvez por ter conhecido de perto os horrores do "Holocausto" não escondeu sua opinião radical: " a guerra contra si mesmo e contra seu irmão" tem sido "mais rápida e eficiente do que quando era efetuada no campo de batalha".
A reação dos jovens, nossos filhos e netos, seria a fuga pelas drogas diante de tanta "futilidade"...
A esperança de Abe, alter-ego de Uris, é que seus filhos, em Israel, mudem esse quadro sinistro.
Fico me perguntando sobre o que escreveria, hoje, Leon Uris, com sua pena afiada, ao ver tantos jovens negros brasileiros e palestinos sendo mortos por "motivos fúteis" pelo exército e pela polícia militar - ou ele diria "motivos torpes"?...
Porto Alegre, 10 de abril de 2019.
Imagem: Pinterest
Edu Cezimbra
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