sexta-feira, 7 de maio de 2021

Feito Torto Pra Ficar Direito

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O documentário “Feito Torto Pra Ficar Direito” foi feito, entre outros,  a partir dos depoimentos de mestres da carpintaria naval tradicional brasileira espalhados por todo o Brasil, especialmente no Nordeste e Norte brasileiros, como este do início do trailer: “a arte de fazer torto…porque você começa um barco, só a quilha é reta – a espinha dorsal é reta – daí não tem mais não…”

Com imagens de rara beleza e poesia evoca a paisagem que durante séculos foi cartão-postal de praias de mar e de rios brasileiros com embarcações multicoloridas com suas velas triangulares.

Para a Ecologia dos Saberes é um documentário que contribui muito na elucidação de seu arcabouço conceitual porque demonstra como os conhecimentos tradicionais e populares contribuem para o aprimoramento da engenharia naval, que incorpora muito de suas soluções práticas na construção de modernos veleiros, como conta Amyr Klink,  participante do documentário. Como ele diz: “embarcação é uma coisa interessante, é uma máquina que não perdoa erros”…

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E foi através de séculos de tentativas e erros que se criou esta autêntica indústria naval brasileira combinando as embarcações portuguesas com o formato das canoas indígenas e trazendo técnicas inusitadas de construção de velas e mastros que remontam ao oriente.

Ressalto aqui o depoimento de um estudioso do tema sob o aspecto da cultura: “a cultura é aquilo que define o modo de vida de toda uma comunidade, ao longo de um período significativo e, nesse aspecto, o conceito de cultura atinge o seu clímax.”

O anticlímax da cultura brasileira aparece no documentário na constatação que este modo de vida vai se acabando por várias razões, entre elas. a prioridade para o transporte rodoviário, a extinção das madeiras de construção de barcos pelo agronegócio exportador e pela falta de novos aprendizes para a continuação deste saber tradicional.

A população ribeirinha sofre impotente a perda de suas condições de vida, como mostra o documentário, quando a praia que servia de ancoradouro natural das embarcações é aterrada para a construção de uma grande avenida, sobrando aos barcos o acostamento. Também sofre quando o Rio São Francisco, assoreado, perde as condições de navegabilidade e grande número de seus peixes desaparecem.

Ecologia dos Saberes parabeniza ao diretor Bhig Villas Boas e equipe, bem como ao IPHAN pelo apoio a este valioso registro do patrimônio cultural brasileiro.

Publicado originalmente no Ecologia dos Saberes.



Porto Alegre, 7 de maio de 2021.

Imagens: divulgação

Edu Cezimbra 

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