quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Pobre Povo Brasileiro



"O não-politizado é como marido que é traído e não sabe."
O autor da citação acima é o Zé Perdiz, um homem do povo,  pobre, mecânico de dia, e homem da cena teatral brasiliense de noite, pois transforma sua oficina em teatro, e que se sabe 'politizado' e logo traído e, por isso, um sofredor. 

Em sua consciẽncia política sabe que o 'não-politizado' não sofre conscientemente com os desmando dos políticos brasileiros. Ao menos, não se dão conta disso, apesar das reclamações cotidianas...

Com outro discurso, mas abordando o mesmo tema, Pedro Serrano, acadêmico do Direito e articulista manifesta assim essa questão em seu livro 'A Justiça na sociedade do espetáculo':

" O povo pobre brasileiro só recebe do Estado obrigações e violência.
A ausência real de universalização dos direitos fundamentais da pessoa humana em nossa sociedade é o sintoma claro de uma cultura fascista, genocida e esquizóide que ainda existe em meio a nossa ordem democrática e pela qual todos somos em alguma medida responsáveis."  

O 'povo pobre brasileiro' não é o mesmo que o 'pobre povo brasileiro', embora dele faça parte. É parte do  'povo', uma das categorias fundamentais que constituem um país, segundo a geografia básica, embora com nenhuma ou pouca participação política. 

Seria o 'não-politizado' da classificação empírica do Zé Perdiz...

'Pobre povo brasileiro' é uma alcunha que me valho para um contraponto, digamos, uma extrapolação da expressão 'povo pobre brasileiro' do acadêmico Pedro Serrano.

Quaisquer das expressões é uma adjetivação do povo constituinte da nação brasileira.

'Pobre nação brasileira' afundada no fosso entre seus poucos ricos e seus muitos pobres...

Como disse o escritor moçambicano Mia Couto:  "A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos."...

Conhecendo um pouco do Mia Couto quero crer que riqueza para ele tenha mais a ver com cultura, educação, saúde, democracia, justiça do que com apenas acesso a bens materiais.

Para concluir apelo para o genial poeta português Fernando Pessoa, parafraseando um dos versos de 'Mensagem': Senhor, falta cumprir-se o Brasil.

Porto Alegre, 5 de outubro de 2016.

Edu Cezimbra 


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