O que nos falta, afinal, para escaparmos do aniquilamento coletivo de que nos fala Ionesco no excerto acima?
Se não estou enganado foi Gandhi quem disse: "olho por olho, dente por dente e todos acabarão cegos e desdentados"...
Ionesco alerta para esta condição humana moderna: "Em realidade, está claro que cada homem detesta a si mesmo em outro".
E, se pergunta: " O que podemos fazer se tudo fracassou? Quase não nos amamos. Amar ao próximo como a si mesmo, é odiá-lo."
Ionesco escreveu estas palavras tão contundentes para a Revista Continente, veículo de manifestação política de intelectuais dissidentes do regime soviético, em fins de julho de 1974 .
Chamou minha atenção sua maneira de falar de amor: "Tive que vencer uma autocensura para escrever a palavra amor. Falar de amor, de amizade, na França, de religião também, ou de humanismo, é atrair para si o ridículo, as zombarias."
Em 1979, já me questionava: "Por que o medo pela amizade?
Por que a prevenção contra as pessoas que procuram se aproximar de outros?
Não entendo por que tanto medo em se aproximar do vizinho e lhe estender a mão num gesto de fraterna solidariedade.
Onde foram parar os princípios cristãos da bondade, do amor e da amizade?"
Que eu me lembre não tinha esta preocupação do ridículo ao escrever a palavra amor, com o devido desconto de ter apenas 19 anos, ter muito amor para dar e ainda não ter lido Ionesco...
Porto Alegre, 10 de abril de 2016.
Edu Cezimbra
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